Foi em 2009 que, de uma troca de
ideias com Joaquin Manzano – então com perplexidades ao redor dos touros de
Guisando – surgiu a ideia de se organizar uma primeira mostra de artes
plásticas sob o tema “touro”.
Não foram precisas grandes
divagações justificativas para tal evento. Com efeito, o touro anda no
imaginário das gentes desde os primórdios do entendimento. A título de exemplo,
veja-se o que deixaram gravado nas cavernas de Lascaux e de Altamira.
Os próprios deuses utilizaram-no
para os seus propósitos: v.g. o boi Ápis ao serviço do deus Ptah em Mênphis e o
touro em que se transformou Zeus, o deus dos deuses gregos, para tomar a
incauta e bela Europa. Anda nos céus, por entre as estrelas, dando nome à
constelação que patrocina lendas, desejos e sonhos.
Entre o comum dos mortais, também
o touro sempre foi admirado pelo seu porte majestoso, pela sua força e pela sua
mansidão.
Por isso, não admira que com ele
tenha interagido desde tempos imemoriais como se vê nos vasos de Cnossos em que
jovens se exercitam em arremedos de touradas modernas, saltando o dorso dos
cavalos.
Corridas de touros e touradas são
hábitos que perduram por todo o mundo latino, com sobrevivências modernas nas
corridas sublinhadas em Pamplona nas festas de San Firmin, imortalizadas na
obra “The Sun Also Rises” deixada no panorama da literatura imorredoira de Ernest
Hemingway.
Este emérito escritor era um
admirador de Espanha, não só de Pamplona, mas também de Ronda, onde escreveu o
seu magistral “Por quem os sinos dobram”, nele enaltecendo a heroicidade dos
caídos pela causa da liberdade na guerra civil.
Pois, foi em Ronda que as regras
das touradas modernas se teceram sob o talento dos Romeros. E é em Ronda, mais
propriamente no poço da casa do toureiro António Ordoñez, que repousam as
cinzas do maior expoente da cinematografia mundial: Orson Welles. Porque assim
o quis este admirador das touradas espanholas, que diz aí ter vivido os mais
belos momentos da sua vida.
Este é o quinto encontro de artes
plásticas ao redor do touro que a Galeria Vieira Portuense organiza. O primeiro
decorreu nas suas instalações, no Porto, onde acorreram artistas plásticos de
vários horizontes. O segundo organizou-se em Sousel, justificadamente já que é
neste concelho que se localiza a praça de touros mais antiga do país. Para o
terceiro encontro fomos a Montalegre ao chamo das famosas chegas de bois tão
características das alturas do Barroso. O quarto evento sobre este tema deu-se
em Guimarães, sem razão justificativa, para além da boa vontade dos artistas plásticos
congregados à volta do projecto Rizoma, sediado nas instalações da Associação de
Socorros Mútuos Artística Vimaranense, local centenário de livre pensamento.
Este ano voltamos a casa, aqui
organizando o “5.º Encontro Internacional de Arte ao Redor do Touro”, onde
mostramos obras de autores de várias origens, entre as quais: Portugual (Braga,
Caldas de Vizela, Cascais, Gondomar, Guimarães, Lisboa, Minho, Penafiel, Porto,
Viana do Castelo, Vila Praia de Âncora); Espanha (Andorra, Ferrol, Madrid, San
Vicente de Arévalo, Valencia); Africa (Angola, Maputo); França (Clermont
Ferrand) e Brasil.
O sexto encontro ao redor do
touro será organizado numa outra localidade da Península Ibérica, registo que
aqui deixamos para que se saiba que a iniciativa não tem morte anunciada.
Porto,
Setembro de 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário