sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Cartaz



Foi em 2009 que, de uma troca de ideias com Joaquin Manzano – então com perplexidades ao redor dos touros de Guisando – surgiu a ideia de se organizar uma primeira mostra de artes plásticas sob o tema “touro”.
Não foram precisas grandes divagações justificativas para tal evento. Com efeito, o touro anda no imaginário das gentes desde os primórdios do entendimento. A título de exemplo, veja-se o que deixaram gravado nas cavernas de Lascaux e de Altamira.
Os próprios deuses utilizaram-no para os seus propósitos: v.g. o boi Ápis ao serviço do deus Ptah em Mênphis e o touro em que se transformou Zeus, o deus dos deuses gregos, para tomar a incauta e bela Europa. Anda nos céus, por entre as estrelas, dando nome à constelação que patrocina lendas, desejos e sonhos.
Entre o comum dos mortais, também o touro sempre foi admirado pelo seu porte majestoso, pela sua força e pela sua mansidão.
Por isso, não admira que com ele tenha interagido desde tempos imemoriais como se vê nos vasos de Cnossos em que jovens se exercitam em arremedos de touradas modernas, saltando o dorso dos cavalos.
Corridas de touros e touradas são hábitos que perduram por todo o mundo latino, com sobrevivências modernas nas corridas sublinhadas em Pamplona nas festas de San Firmin, imortalizadas na obra “The Sun Also Rises” deixada no panorama da literatura imorredoira de Ernest Hemingway.
Este emérito escritor era um admirador de Espanha, não só de Pamplona, mas também de Ronda, onde escreveu o seu magistral “Por quem os sinos dobram”, nele enaltecendo a heroicidade dos caídos pela causa da liberdade na guerra civil.
Pois, foi em Ronda que as regras das touradas modernas se teceram sob o talento dos Romeros. E é em Ronda, mais propriamente no poço da casa do toureiro António Ordoñez, que repousam as cinzas do maior expoente da cinematografia mundial: Orson Welles. Porque assim o quis este admirador das touradas espanholas, que diz aí ter vivido os mais belos momentos da sua vida.
Este é o quinto encontro de artes plásticas ao redor do touro que a Galeria Vieira Portuense organiza. O primeiro decorreu nas suas instalações, no Porto, onde acorreram artistas plásticos de vários horizontes. O segundo organizou-se em Sousel, justificadamente já que é neste concelho que se localiza a praça de touros mais antiga do país. Para o terceiro encontro fomos a Montalegre ao chamo das famosas chegas de bois tão características das alturas do Barroso. O quarto evento sobre este tema deu-se em Guimarães, sem razão justificativa, para além da boa vontade dos artistas plásticos congregados à volta do projecto Rizoma, sediado nas instalações da Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense, local centenário de livre pensamento.
Este ano voltamos a casa, aqui organizando o “5.º Encontro Internacional de Arte ao Redor do Touro”, onde mostramos obras de autores de várias origens, entre as quais: Portugual (Braga, Caldas de Vizela, Cascais, Gondomar, Guimarães, Lisboa, Minho, Penafiel, Porto, Viana do Castelo, Vila Praia de Âncora); Espanha (Andorra, Ferrol, Madrid, San Vicente de Arévalo, Valencia); Africa (Angola, Maputo); França (Clermont Ferrand) e Brasil.
O sexto encontro ao redor do touro será organizado numa outra localidade da Península Ibérica, registo que aqui deixamos para que se saiba que a iniciativa não tem morte anunciada.

Porto, Setembro de 2014

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